As histórias, crônicas, contos, causos. Exercícios de eloquência.

Wednesday, September 13, 2006

Nota de setembro.


Dedicado à Lena Casas Novas

Não era eu o cara? O cara que sabia dar os pulos dos gatos, que aprendera deste há muito a estampar o sorriso certo com as minhas muitas caras e bocas? Era sim. Mas diante da presença dela e das evocações de ternura e do desejo de abraçá-la que me vinham, eu permanecera mudo, hermético, enclausurado numa miserável timidez. Houvera eu perdido ali a habilidade de buscar a expressão de boa medida, no universo mágico das tantas palavras.Assim não ficou nada dito naquela noite. A festa de São José do Operário poderia ter tido mais graça. Mas eu não disse a Dona Elza, a professora do primário, que me chamava de minha “largatixa” – eu demorei a aprender a dizer lagartixa – que lhe tinha uma generosa porção de saudade.

Praguejei as minhas efusividades estéreis: Deixar-me fotografar na bienal do livro, com a tal Bruna Surfistinha , dizer-lhe que lera com entusiasmo o seu “O doce veneno do escorpião”, era-me tão fácil como a me divertir e a irritar a bibliotecária que estava no nosso grupo, por achar tão ridículo uma mulher que tomara o marido de outra, fazer tanto sucesso com um livrinho mequetrefe. Ou quando pedi, na festa de aniversário do Shayan, que desligassem o som que eu iria dar um presente ao aniversariante, faria um violão e voz...

Mas se há agosto, há setembros. Não perdi não. Encontrei novamente a Dona Elza. Nos falamos tanto, não tanto como o terno abraço (ela tem cheiro de flor).

Que nos venham os setembros com sua primavera e seus eflúvios para o hemisfério sul. E que a gente possa ter, sempre, gente para gostar de ter saudade, para gostar de tomar uns chopes, umas bohemias. Ah, meus camaradinhas, sempre haverá setembro.

Barry White - Just The Way You Are

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