As histórias, crônicas, contos, causos. Exercícios de eloquência.

Saturday, September 23, 2006

O canguru e o meu cachorro não são chatos.

Brizola



"Qualquer coisa que encoraje o crescimento de laços emocionais tem que servir contra as guerras."
(Sigmund Freud)

Não sei por que mãos o bicho chegou lá em casa. Disseram que um moleque o deixou bem ali, perto da entrada, onde ninguém o negligenciaria. Do que duvido. Ninguém tira da minha cabeça que isso fora coisa da Gabriela, filha do Dino.

Um vira-latas, ainda muito tenro, que adorava afagos. Com o cuidado que carecia e cara de indigente, tomei partido dos que achavam por bem que a família deveria criar o cãozinho. E foi. Meu pai deu-lhe o nome Brizola. Eu preferia Fred. Crescia que quase se via. Afeiçoei-me ao bicho e ele a mim. Incrível, ele conhecia até o barulho do meu carro. Quando engatava a segunda marcha e virava a esquina para minha casa, meu olhar encontrava o Brizola, todo sentinela, a abanar cauda. Ele lá cheio de orgulho de seu dono. Me amava.

Ninguém é perfeito pra ninguém. Eu era perfeito para o Brizola. Dele só não gostava da efusividade com que me recebia quando eu chegava altas horas em casa. Eu sabia que minha vizinha do lado da rua, vivia a vigiar a que horas eu chegava. Não sei bem a que propósitos, mas sabia que me espreitava. E o Brizola, escandaloso, com sus latidos de declaração, acabava avisando a vizinha. Então, quando sabia que voltaria tarde da noite, embrulhava umas salsichas e guardava no porta-luvas do carro. Salsicha era a única coisa que o fazia desistir momentaneamente de mim. E foi assim muitas vezes, até um dia que o notei jururu. No outro dia mais jururu ainda. Pensei que fosse falta de fêmea, mas não. O Brizola fora acometido por cinomose e a cada dia ficava mais debilitado. Mesmo não podendo movimentar a anca, se arrastava para chegar até mim, pra ganhar um afago. Me cortava o coração ver aquilo. Era questão de dias, o Maradora do Fonsin, já tinha ido com menos tempo. O pessoal do controle de zoonoses resolveu poupar-nos do padecimento e levaram o Brizola para o sacrifício.

Resolvi que dali em diante nunca mais teria um animal de estimação. E de fato não os tive. O único bicho que me divertiu depois, foi um canguru que encontrei na sessão de piadas da revista Playboy. Era hilária demais, apesar de achar que só eu me divertia com aquela piada. Certa feita, na despedida do professor Jorge Campos, que retornaria ao Rio, todos alegres, depois de umas “geladas”, resolveram contar anedotas. Uma atrás da outra e forte gargalhadas. Pensei “vou arrebentar com a minha piada. E mandei meu canguru. Coitado de mim: tímidos risos pra não perder o amigo.

Resolvi deixar o canguru de lado.

Dia desses, estando com meu amigo Ruan Carlos, notei-o um tanto “deprê” – Aê, solta um sorriso aí, otário – falei pra ele. E nada. Nem um “três oitão” fazia o menino rir. Então como numa mágica que não se pode explicar, soltei o canguru. “Ruan, certa vez no oeste bravio, um canguru adentrou um saloon a saltitar, debruçou-se no balcão e pediu uma dose de martíni seco. O barman, mesmo abismado, atendeu sem hesitação o pedido do inusitado cliente. Depois de tragar calmamente uma segunda dose, o canguru pede a conta ao garçon, que lhe cobra dez reais. O marsupial paga. O garçon não se contendo diz: “desculpe-me, mas devo lhe dizer que é a primeira vez que atendo um canguru”. O canguru mira-lhe com os olhos e responde: “com o preço que vocês estão cobrando será a primeira e última”.

Foi o bastante para lhe botar alegria. Até hoje ele ri do canguru. Não sei, mas acho que a piada caiu-lhe bem porque ele gosta de bichos. Outro dia ficou um tempão na Gaiola de ouro, aquela loja de animais da Cassiano Castelo, a olhar os cachorrinhos na gaiola.

Para ouvir: Forever Young (acústico)- Alphaville




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